É a economia, estúpido?

 

É a economia, estúpido?

Cunhada em 1992 por James Carlile, estrategista da campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA, a frase “É a economia, estúpido” (It’s the economy, stupid) se popularizou, especialmente entre liberais* no Brasil e no mundo. O sentido original da frase era eleitoral, mas acabou por ser usada para defender a tese de que a economia de mercado e o livre comércio trariam consigo liberdade e democracia. Esse era o argumento central quando grandes corporações americanas começaram a investir na China. A idéia básica sugeria que, com a abertura econômica, seria natural que houvesse a abertura social e o aumento das liberdades individuais.

Este movimento de abertura econômica, porém, começou bem antes, com – vejam vocês ! – Richard Nixon, um anti-comunista histórico. Em 1972, Nixon visitou a China e até sentou-se com um dos maiores genocidas da história, Mao Tsé Tung, pondo fim a 25 anos de isolamento diplomático entre os dois países.

Nixon in China: The Week that Changed the World

Link: https://www.youtube.com/watch?v=Lnz7Ze71Pc0

Chamado de “a semana que mudou o mundo”, o encontro foi o início de uma mudança econômica na China, nos EUA e no planeta. Há tempos os intelectuais comunistas haviam percebido que a economia planificada não era um bom caminho, então o PCCh (Partido Comunista Chinês) abraçou com entusiasmo o livre mercado.

Foram 20 anos até os anos 90, quando a China virou a queridinha das empresas multinacionais e a quantidade de entrada de capital no país só aumentou. Mas, diferente do esperado, a liberdade não veio. Mesmo assim, o dinheiro não parou de entrar, com exceção de um curto período, que sucedeu o histórico massacre da praça da Paz Celestial em 1989.

Assim, a economia Chinesa seguiu se beneficiando mais e mais do livre mercado. Entretanto, a aparente liberdade econômica se dava apenas das fronteiras para fora. Toda propriedade ou produção econômica dentro da China continuou sendo, como é até hoje, submetida ao PCCh.

Um exemplo recente é o de Chang Xiangming. Em 2004, seus pais compraram, em concessão, uma área de terra abandonada no estado de Chayong. Os pais de Chang se tornaram milionários na China. Nesta terra eles começaram uma fazenda que plantava tâmara chinesa (uma erva cujo chá é conhecido por seus benefícios para a saúde e é vendido no mundo todo). Além disso se tornaram donos de uma farmácia. O contrato da concessão era de 25 anos (2004-2039). Em uma entrevista ao Epoch Times, Chang contou:

“A terra havia sido abandonada há anos. Meu pai investiu recursos humanos e financeiros para melhorar o solo assim que o contrato foi assinado. Ele plantou 6,000 árvores de tâmara chinesa e 2,000 choupos. Eles começaram a dar frutos em 2008. Nós estávamos muito felizes, ansiando por um futuro brilhante.”

Em 2009 o estado de Chayong planejou um realocamento de terras. Em 2010, sua mãe foi espancada quando os oficiais vieram tomar a fazenda à força. Chang e sua esposa emigraram para o Canadá. Seus pais, ainda na China, vivem na pobreza e lutam em vão na justiça pela realocação de suas terras.

A economia é um ponto fundamental para as relações entre as nações, mas já está mais do que na hora de superarmos a idéia de que apenas o aspecto econômico trará liberdade. A briga entre uma nação livre, com direitos de trabalhadores estabelecidos, liberdades individuais respeitadas versus um estado totalitário não é apenas moralmente desigual, mas economicamente injusta. É com uma luta de boxe em que apenas a um dos adversários é permitido dedo no olho e chute nas partes. É preciso que reordenemos as prioridades e que retornemos a sancionar nações que abusam flagrantemente do poder, desrespeitando os direitos humanos mais básicos. Porque a economia, estúpido, deve servir ao homem, nunca o contrário.

*liberal no sentido de liberal econômico, diferente do liberal americano que poderíamos traduzir como progressista

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