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Pescaria Ilegal Chinesa

O comércio internacional encontra um período de turbulentos desafios. O caminho pós-pandemia abrirá muitas oportunidades, ao mesmo tempo que fecha tradicionais rotas e fluxos comerciais. O Brasil, neste contexto, pode sair fortalecido, entretanto, neste tradicional xadrez seria interessante que nosso país diversificasse seus parceiros comerciais para evitar a dependência significativa de uma nação, como tem acontecido com a China.

A sinodependência comercial brasileira já se tornou uma realidade, ao mesmo que tempo que diversas outras nações do mundo seguem pelas mesmas águas. O fato é que isto cria uma dependência que vai além do comércio e deságua e no mundo político. Este é um fato que precisa ser repensado pelo Brasil, sob risco de perder controle estratégico em pontos nevrálgicos de sua soberania.

Um exemplo claro tem sido as frotas chinesas que avançam em águas internacionais e se aproximam perigosamente da costa de diversos países, entre eles o Brasil, para exercer uma questionável atividade pesqueira. Somente no último ano, estima-se que cerca de 1.000 navios de bandeira chinesa ou pertencentes a empresas do país estiveram exercendo a pesca nas costas do Atlântico Sul, causando prejuízos enormes para atividade pesquisa local.

Pequim possui uma necessidade enorme em abastecer seu mercado local, hoje de uma população de cerca de 1.4 bilhões. Para isso, importa alimentos do Brasil e de diversos outros países, mas precisa ir além, buscando métodos subsidiários de conseguir, especialmente em tempos de pandemia, suprir a demanda de seu imenso mercado local. As manobras navais em busca de alternativas têm sido um desses caminhos.

A prática internacional consiste em desabilitar o chamado “sistema de identificação automático” que é o mecanismo que garante a segurança marítima. Desabilitado, a segurança é menor, porém as frotas passam a navegar de forma incógnita nas costas marítimas, o que facilita a pesca fora dos limites legais. A ação é uma clara violação das leis marítimas internacionais que acabam por afetar a soberania nacional.

Diversas nações vêm se mobilizando para evitar a violação das costas nacionais por navios estrangeiros, um movimento que prejudica de forma sensível um vetor importante da economia que é a pesca. Em fevereiro deste ano, a Universidade Internacional da Florida sediou uma conferência sobre pesca ilegal e desautorizada nas costas internacionais, apontando os impactos globais e regionais desta atividade ilícita, bem como seu combate internacional que precisa ser reforçado.

Os impactos desta prática afetam a economia e vão muito além, atingindo o meio ambiente e também a segurança e soberania nacionais. Países como o Brasil, com uma imensa costa, precisam estar cientes que a patrulha naval atual é incapaz de prevenir avanços sobre nossos mares e uma ação mais efetiva precisa ser tomada, sob pena de vermos nosso país assistir suas riquezas e potencial econômico atacados por ações ilegais de países que inclusive são nossos parceiros comerciais.

Nesta semana foi divulgada pesquisa que mostra que o povo brasileiro não possui uma percepção boa sobre a China. Cerca de 44% dos brasileiros rejeitam o país asiático e somente 34% possuem uma visão favorável. Isto mostra em larga medida a ausência de identificação nacional com o regime de Pequim, que apesar de ser o maior parceiro comercial, ainda possui um enorme caminho para ganhar os corações e mentes dos brasileiros. Certamente a ação ilegal em nossos mares não favorece os chineses, que possuem dificuldade em lidar com sua imagem externa, especialmente diante de uma agenda unilateral e uma diplomacia impositiva, que agora avança também pelas costas de seus parceiros comerciais.

Márcio Coimbra é Presidente da Fundação Liberdade Econômica.  Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007), Espanha.

 

Sai do Zap e aproveita pra aumentar sua cultura no isolamento, estúpido

Aproveita agora pra fazer algo que preste. Acompanhar cada notícia não vai resolver os problemas

Em um país – e num tempo – em que meia dúzia de memes, uma piada ou uma fantasia de índio causam comoção na internet*, discutir um assunto com variáveis múltiplas é o equivalente a explicar física quântica para um dromedário ou a regra de impedimento para uma mulher cis binária. Some a isso o analfabetismo e a falta de caráter da imprensa ao oportunismo de certas figuras da política e do establishment e teremos a tempestade perfeita. Neste cenário só nos resta manter as mãos e lavar a calma, ou vice-versa.

Para ajudar você, que não aguenta mais receber pela 73579ª um vídeo intitulado “Quarentena dia 7”, fizemos uma lista com coisas que podem aumentar sua cultura sem que você gaste um centavo.

Canal do crítico literário Rodrigo Gurgel no Telegram, um bate papo diário sobre literatura de uma forma leve e acessível sem perder a profundidade. Outro canal com ótimo conteúdo é o seu canal do  Youtube.

Digital Concert Hall da Orquestra Filarmônica de Berlin.

Google Arts and Culture

O site Escola e Educação juntou 30 sites para baixar livros de graça.

Muitos museus pelo mundo têm a opção de tour virtual. Você pode visitar-los pelos links:

Museu Nacional Arqueológico de Atenas

Galeria Uffizi

Museu do Louvre

Metropolitan

Museu do Prado

British Museum

Museu da Imagem e do Som

Obviamente não posso deixar de mencionar o Guten Go, o mais valioso e completo curso online sobre a Primeira Guerra Mundial já produzido, apresentado por Flavio Morgenstern, nosso editor-chefe.

Lembrem-se que a saúde mental também é importante nessas horas e você, leitor deste Senso Incomum, é dos poucos que ainda a preservam no meio da epidemia de ignorância que assola o país.

Aproveite seu tempo com algo que preste.

*comoção dos coleguinhas da gorda de cabelo azul e seus amigos da redação da Folha

O que é MPB? Onde vive? De que se alimenta?

Na Discussão Musical Brasileira, a MPB está sob revisionismo, relevando-se que não era a unanimidade que se imaginava. Afinal, o que é MPB?

“Não usar a sigla MPB em hipótese alguma”: este foi o recado deixado pelo escritor e biógrafo Ruy Castro para o editor de uma revista que o contratou para escrever sobre música brasileira. Não posso dizer com certeza o que motivou o autor de Chega de Saudade – a história e as histórias da bossa nova a se preocupar com detalhe aparentemente tão insignificante, mas posso imaginar. Então imaginemos.

Quando foi criada, em meados da década de 60, a sigla tinha um significado definido: era, basicamente, a música que se fazia na casa dos pais da Nara Leão. Jovem da classe média-alta carioca, Nara promovia festas no famoso apartamento do edifício “Champs-Elysées” em Copacabana. Entre uma  bebericada de tequila sunrise e um flerte com um broto, cantava-se bossa nova, sambas e canções com influência de ritmos regionais brasileiros. Sempre com letras cheias de críticas sociais foda, claro. Ali nascia a MPB.

Artistas da Zona Sul, filhinhos de papai, socialistas, prédio com nome de bairro de Paris, música engajada… talvez esteja aí o motivo pelo qual conservadores e liberais xinguem muito no twitter só de ouvir falar no gênero, frequentemente associado à esquerda universitária. Já foi mesmo, a ponto de organizarem uma passeata contra a guitarra elétrica em 1967 (Sério! Olha lá a foto que ilustra este artigo). Porém, pouco depois, a MPB já abarcava coisas tão diversas quanto Mutantes e Tom Jobim, Raul Seixas e Paulinho da Viola, Odair José e Ernesto Nazareth. Hoje, então, a coisa degringolou:  cantou em português e não é fado, já é MPB. O resultado disso é que, assim como aconteceu com a palavra “fascista”, o significado da sigla ficou tão amplo que esvaziou-se de sentido. Então, conservador amigo, dá o dedinho aqui e vem fazer as pazes com a música brasileira que o tio vai ficar feliz. Tem pra todos os gostos.

Toca Raul

Recentemente a facebookosfera entrou em mais uma das suas profundas discussões do tipo “biscoito ou bolacha”, daquelas que duram um dia mas dão a impressão que vão mudar os destinos de todas as humanidades do universo: seria a música popular de Cartola, Noel Rosa e Radamés Gnattali, inferior à música erudita de Villa-Lobos, Carlos Gomes e Camargo Guarnieri? Como diz a velha máxima: música, só vendo. Então ouçam com seus próprios olhos e me digam o que acham. Uma dica para o caso de você ser do século passado como eu: tem links nos nomes dos compositores.

Comparar música popular e erudita é como comparar um prato de bife à milanesa da sua avó com outro de vieiras desidratadas sobre creme de agrião ao molho de tinta de lula do René Redzepi. Ambos são feitos para comer, mas cada um tem funções espirituais completamente diferentes. Enquanto um nos leva ao que há de mais transcendente, outro nos aproxima do que temos de mais íntimo. O Addagietto da 5ª Sinfonia de Mahler pode revelar outra dimensão da existência. Mas só um sujeito desdentado cantando “tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor” vai produzir o efeito emocional que ajudará você a passar por aquele pé na bunda sem pensar em arrancar os próprios olhos com uma navalha cega.

Diz a lenda que uma vez levaram Villa-Lobos pra conhecer a música do morro. A certa altura alguém gritou: “Cartola, toca um sambinha seu aí”. Villa-Lobos ouve a canção em silêncio e, quando o sambista termina, dispara: “Tá tudo errado, mas tá maravilhoso”. Villa-Lobos era um cara legal.

Como bem disse Tom Martins, também colunista deste Senso Incomum: “Enquanto o conservador brasileiro desdenha do samba, do choro e da bossa nova, o conservador americano coloca “Wave” na lista de standards eternos do jazz. Não conheço conservadores americanos desdenhando do blues por acharem que BB King, Robert Johnson e Muddy Waters não são gênios.”

Tom Martins sobre samba e blues

Concordo que a palavra “gênio” é usada sem muito critério. Parafraseando Ariano Suassuna, a mesma palavra não pode definir o sujeito que faz uma sinfonia, uma piadinha na internet, a Pietá ou um funk ostentação. Mas há critérios objetivos para diferenciar música popular mal feita da música popular sofisticada. Aposto que ninguém vai negar que a distância artística entre Cartola e Villa-Lobos é bem menor do que entre qualquer um dos dois e Chimbinha. Se bem que…

É evidente que boa parte da música brasileira é chata pra cacete, rasa, metida a chique e não tem nada de genial – especialmente o tipo que faz sucesso nos barzinhos onde um sujeito com cara de uspiano toca aquele repertório Anacarolinavercillogonzaguinhaloshermanos. Mas como definir Nazareth, Gnattali, Jobim, Cartola, Noel senão como gênios? Não fossem indivíduos com extraordinárias capacidades intelectuais, notadamente as que se manifestam em atividades artísticas (valeu, Houaiss!), tropeçaríamos em similares por aí. A única diferença entre eles e os eruditos é que, enquanto uns produzem  alta cultura, os outros produzem cultura popular. Genialmente.

Diferente das artes plásticas, onde a técnica se perdeu e qualquer pote de merda é considerado arte, ainda há como separar, na música, o que é popularesco do que é sofisticado. Algo parecido acontece no cinema e na literatura onde alguma técnica é imprescindível. Um grande problema da direita, e que a esquerda sabe explorar muito bem, é o desdém pela cultura pop (leiam The Crisis in the Arts: Why the Left Owns the Culture and How Conservatives can Begin to Take it Back do Andrew Klavan, pfv!)

Quem me indicou este livro, aliás, foi Alexandre Borges, que escreveu um texto sensacional defendendo que a música “Não deixe o Samba Morrer” é na verdade um hino conservador. Entre outras coisas diz: “temos que separar a legítima reverência pela alta cultura ocidental, da qual o Brasil é um contribuinte pouco relevante, de um elitismo afetado e incapaz de enxergar méritos, quando existem, na cultura popular”.  Eu não resumiria melhor meu ponto.

A cultura pop bem feita pode levar o sujeito comum à alta cultura. Quantos moleques não foram estudar mitologia através do Star Wars ou Senhor dos Anéis? Quantos não chegaram à grande literatura através de gibis ou desenhos animados? Eu fui um. Alguém disse recentemente que, enquanto o Omelete for o site de cultura pop mais lido do Brasil, não vamos chegar muito longe. É verdade.

Tem coisa boa sendo feita por aí que não foi sequestrada pela leirouanetização das artes. Precisamos de um “Omelete” feito por pessoas com nossos valores, afinal, um deles é não passar a vida falando sobre política. Tentarei fazer isso aqui como colunista do Senso, mostrando um pouco do que está sendo produzido, mas fica escondido aí nas internétes da vida. Então tira esse pince-nez, afrouxa a gravata e vem tomar um sol aqui na cultura pop. O Chesterton não vai fugir da sua estante.

FECHA PARÊNTESE

Uncle Sam – We need you!

Epílogo

Sempre achei uma bobagem essa coisa de dizer que há um gênero musical superior. Não porque ache que não há arte superior (claro que há, ora porra!). Minha implicância é que o gênero descreve uma parte muito pequena da obra musical. Mas, vá lá!, se o sujeito diz não gostar de samba, de mambo, de house ou hip-hop, ainda podemos delimitar esses estilos de uma forma mais concreta. Mas e a MPB? Da forma como é entendida hoje significa, para alguns, aquela estética USP-barzinho. Pra outros, praticamente toda a música popular ocidental cantada em português. É exatamente por isso que eu sugeriria, assim como Ruy Castro para o seu editor: “não usar a sigla MPB em hipótese alguma”. Nem pra defender, nem para atacar. Música popular brasileira é do balacobaco. MPB é uma merda.

 

O plano de um mundo dominado pelo Partido Comunista Chinês até 2049

 Analistas alemães alertam que a China está expandindo sua economia e influência durante a pandemia e tem objetivos claros de dominação

O plano de um mundo dominado pelo Partido Comunista Chinês até 2049
Se você chegou aqui com apetite para uma deliciosa teoria da conspiração, infelizmente não tenho nada a oferecer. Não existe nenhum plano secreto e obscuro engendrado pela China para dominar o mundo, trata-se de um plano claro, pragmático, centrado em interesses econômicos e que se aproveita de oportunidades geradas pela pandemia de coronavírus. A análise não é minha, é da Deutsche Gesellschaft für Auswärtige Politik, Sociedade Alemã de Relações Exteriores, entidade fundada em 1945 e responsável pelas principais publicações na área no país. (O artigo completo, em inglês, está aqui.)

A história da humanidade é marcada por disputas sobre a liderança mundial e, nesse momento, devido a uma série de configurações políticas, mas sobretudo econômicas, o Partido Comunista Chinês acredita ter condições de avançar em um objetivo tradicional, a substituição das relações competitivas entre países por um modelo “harmonioso”, desenhado e gerenciado pela China. Esse é uma política oficial, que tem nome: 中国特色大国外交理论 ou “Teoria da Diplomacia de Grande Potência com Características Chinesas”.

A principal vantagem atual do Partido Comunista Chinês sobre os governos democráticos é o domínio que ele tem sobre as práticas de desinformação e propaganda, utilizadas para manipular mais de um bilhão de pessoas há décadas. Atualmente, essas técnicas são a maior força econômica mundial, motor das “Big Techs”, as indústrias mais ricas da história da humanidade. Pela falta de experiência, governos democráticos sequer levam a sério algo que pode mudar a vida de toda a população.

Enquanto a comunicação dos governos democráticos tem a tradição de ser centrada em fatos e transparência, o Partido Comunista Chinês especializou-se em narrativas, sutilezas, versões e omissões estratégicas. Em abril, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, escreveu um artigo na revista ideológica Qiushi (Buscando a Verdade) com o seguinte título: ” Tomando o pensamento de política externa de Xi Jinping como um guia – impulsione e construa a ‘Comunidade do Destino Humano’ por meio da Cooperação Global no Combate ao Vírus”.

Muito provavelmente os inteligentinhos de plantão dos países democráticos não levarão nada disso a sério. A Teoria da Comunidade do Destino Humano, em chinês 人类命运共同体, foi apresentada publicamente em 2013 pelo próprio Xi Jinping, presidente da China e Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês, num discurso público no Instituto de Relações Internacionais de Moscou. Trata-se da ideia de substituir a ordem mundial que se consagrou com a ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos após 1945 por algo que seja mais benéfico para a China.

O plano tem três fases, a primeira até 2025, a segunda até 2035 e a final até 2049. Na primeira, a intenção é conseguir liderança em diversos setores econômicos, com destaque para o das novas informações, análise de dados e inteligência artificial. Caso a China consiga consolidar o que deseja, terá duas formas de pressão muito fortes sobre todas as democracias: econômica e do controle da opinião popular. Aqui, pouco importa o que as pessoas pensem sobre a China ou o Partido Comunista Chinês, a questão é economia. Os chineses já são investidores da “Big Techs” e conseguem manipular a opinião pública a favor dos interesses dos setores econômicos que querem dominar.

A partir do domínio efetivo nessas áreas, 2035 seria um marco para outros vôos, segundo o plano original, dito publicamente em discurso por Xi Jinping no Congresso do Partido Comunista Chinês de 2017: “Novos patamares … em todas as dimensões do avanço material, político, cultural e ético, social e ecológico”. Nesse mesmo discurso, o líder chinês previu que o país se tornaria capaz de vencer qualquer guerra, já que elas passariam a um novo patamar totalmente dependente de tecnologia, uma área já dominada pelo país tanto na produção quanto no uso eficiente.

Por que 2049? O marco está inclusive na Constituição da China, com o nome de “Rejuvenescimento Chinês”, parte do “Sonho Chinês”, marcando o centenário do Partido Comunista Chinês.
“O caminho do avanço político socialista com características chinesas é um requisito para manter a própria natureza do Partido e cumprir seu propósito fundamental”, explica Xi Jinping.

Anteontem, numa reunião que condecorou heróis do combate ao coronavírus, o presidente da China voltou a falar no conceito de “Rejuvenescimento Chinês”. Pediu que o espírito de luta contra o vírus seja convertido em força para construir um socialismo moderno e finalmente chegar ao “Rejuvenescimento Chinês”. As declarações foram registradas no site oficial do governo da China exatamente com as seguintes palavras:

“A batalha contra o COVID-19 também demonstrou o poder dos valores socialistas centrais e da refinada cultura tradicional chinesa, que fornecem grande motivação e ajudam a construir consenso e reunir recursos, disse Xi Jinping. Ele disse que o amplo apelo de construir uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade é o caminho certo para a humanidade superar os desafios comuns e construir um mundo mais próspero e melhor”, diz o comunicado oficial sobre a reunião.

O Partido Comunista Chinês tem uma imensa vantagem sobre nós, ocidentais, em perseguir objetivos coletivos e compreender a moral alheia. Entendem que, para nós, ocidentais, os refúgios naturais contra um domínio socialista são liberdade de expressão e ideologias de direita. Por isso é tão importante dominar a coleta de dados pessoais e a Inteligência Artificial, para poder maquiar a realidade e simular esses conceitos em países ou empresas dominadas por capital chinês.

Vamos a um exemplo prático? Você acha que Polônia e Hungria, tidas como extrema-direita na mídia, são aliadas ou inimigas da China? Polônia é inimiga e Hungria é aliada. Para nós, ocidentais, o debate ideológico é franco, aberto, realmente acreditamos naqueles conceitos. O Partido Comunista Chinês é mais pragmático: interessa ganhar, não ter razão. Enquanto nos focamos no discurso e no que parece ser, o projeto chinês é todo centrado em ação – até porque tem prazo e metas claras.

O professor Yan Xuetong, um dos maiores especialistas em Relações Internacionais do mundo, decano da Universidade de Tsinghua, defende há muitos anos que a única chance da China de sobrepor o domínio dos Estados Unidos é dividir as opiniões na Europa e rachar o bloco da União Europeia. Isso não é segredo, está no livro dele, publicado em 2013, “A Inércia da História: O Mundo e a China em 2023”. “Nos próximos 10 anos, os desacordos internos na União Europeia aumentarão e sua capacidade de falar com uma voz unificada sobre assuntos externos assumirá uma tendência de queda, então será impossível para a UE implementar uma política consistente com relação à China”, previu em 2013 o intelectual Chinês.

Ele defende que o país passe a fazer o máximo possível de acordos e relações bilaterais com países europeus para evitar que a Europa, em bloco, se posicione a favor dos Estados Unidos e dos valores defendidos por essa liderança, como competitividade e democracia. A abordagem deveria ser dividida em três grupos específicios: Amigos, Inimigos e IniAmigos.

Amigos seriam aqueles capazes de impedir votos anti-China na União Europeia, como Grécia, Espanha, Sérvia e Hungria, além de outros países do sul e sudoeste da Europa, que tenham relações estratégicas, cooperativas ou de amizade.

Inimigos são aqueles que devem ser apontados como tendo um “preconceito” com relação à China. São países como Suécia, Noruega, Polônia e praticamente toda a parte norte da Europa. O tratamento sugerido é acirrar a polarização na opinião pública mas declarar oficialmente que a China não tem nada contra esses países. Para não serem engolidos pela polarização, seriam forçados a não agir contra as políticas chinesas.

IniAmigos são os países que até querem colocar um pé na porta da China para proteger suas liberdades, mas têm interesses econômicos tão fortes que preferem não ter de fazer isso, como França, Alemanha e Reino Unido. A orientação é a aproximação bilateral com interesses econômicos para que não se oponham à China.

O trabalho do DGAP traz 10 sugestões para que a Europa promova segurança democrática, tendo em vista que o governo chinês está utilizando todas as oportunidades possíveis para avançar economicamente e em influência durante a pandemia. A principal lembrança é que os Europeus levam regras e tratados muito a sério enquanto a China simplesmente testa limites, como fez em Hong Kong recentemente. Deixo aqui as sugestões, que creio serem boa reflexão para nós:

1. Fortalecer a resiliência democrática – O modelo é a Agência Sueca de Defesa Psicológica, destinada a identificar, combater e informar os cidadãos sobre processos de coleta de dados, rastreamento, manipulação psicológica e desinformação.

2. Auditar cadeias de fornecimento – Verificar em que indústrias os países se tornaram absolutamente dependentes da China e avaliar a necessidade de reverter.

3. Limitar oportunidades de desinformação – Fazer um pente fino da presença e influência chinesas sobre as empresas de tecnologia presentes na Europa e seu poder de promover desinformação, à semelhança do que já foi feito com a Rússia recentemente.

4. Diversificar cadeias de fornecimento – Os governos devem dar suporte aos empresários para encontrar alternativas de fornecedores fora da China nos setores onde o domínio é crítico.

5. Construir alianças confiáveis – Expandir relações comerciais com países que tenham valores democráticos e de liberdade individual.

6. Pente fino nos investimentos estrangeiros – Detectar e impedir investimentos estrangeiros que ameacem a soberania dos países europeus.

7. Rotular fontes de propaganda – Acompanhar as medidas já tomadas pelo governo dos Estados Unidos com relação a diversas agências de notícias do Partido Comunista Chinês que desinformaram durante a pandemia, transmitindo até confissões resultantes de tortura. Em vez de “imprensa”, passariam a ser “missões estrangeiras”.

8. Investigar a atividade da “Frente Unida” 统一战线 – À semelhança dos Estados Unidos e Austrália, criar regras para restringir a atuação do grupo que utiliza subterfúgios para internacionalizar, na sociedade civil, interesses do Partido Comunista Chinês.

9. Proibir tecnologia chinesa – Recentemente, as Forças Armadas da Alemanha baniram o uso do Tik Tok entre todos os seus membros. Decisão semelhante deve ser tomada com toda tecnologia que tenha instrumento de vigilância no âmbito dos servidores públicos e pessoas ligadas a governos.

10. Levar a segurança digital a sério – Enquanto Europa e Estados Unidos vêem a internet e suas regras como garantia dos próprios cidadãos, a China expande para diversos países sua tecnologia e suas regras de coleta e controle de dados. É preciso organização para dar suporte tecnológico com valores democráticos a países em desenvolvimento, sobretudo na África.

Não há democracia e liberdade sem proteção e segurança. “Pessoas nas nações democráticas precisam entender que a democracia requer segurança ou proteção e não vai necessariamente triunfar – ou nem mesmo sobreviver – simplesmente pela virtude de ser um sistema mais humano”, diz a análise do DGAP. Antigamente, poder militar era suficiente para defender um país, hoje não mais.

A tecnologia nos trouxe duas novas lutas. A primeira é a complexidade do sistema financeiro internacional, que pode deixar um país totalmente de joelhos diante de um tirano aos poucos, com investimentos estratégicos. A outra é a desinformação, que ninguém leva tão a sério quanto deveria no mundo democrático, mas é mais eficiente que a força bruta nas mãos dos tiranos. A prisão mais segura é a ilusão da liberdade.

 

Quanto custa a máquina de propaganda russa? O orçamento é público, confira

O governo Putin acaba de anunciar aumento de 40% na verba para as empresas de comunicação aliadas ao governo em 2021

 

Quanto custa a máquina de propaganda russa? O orçamento é público, confira.
SEPTEMBER 30, 2020
Estátua de Lênin
Você já reparou que quase todos os especialistas em manipulação nas redes sociais fala em técnicas russas de propaganda? A Rússia é, até hoje, uma campeã mundial no quesito propaganda governamental, uma forma eficiente de manter o regime ditatorial em um território tão vasto, diversificado e com conflitos internos. A prisão mais eficiente não é a que precisa de grades e armas, é a ilusão da liberdade. A frase é fácil de falar, mas difícil de colocar em prática.

Todas as técnicas de propaganda política que muitos costumam chamar de “fake news” e confundir com boatos ou notícias falsas vêm da expertise russa e funcionam muito bem nas democracias. Como o pensamento de quem cresce em uma democracia é focado no conteúdo comunicado e na liberdade de expressão, as pessoas demoram a entender qual é a manipulação feita, a do espaço público. Quando entendem e começam a reagir, é tarde, o estrago já foi feito.

Um exemplo simples é a técnica chamada “firehosing”, que significa algo como “regar com mangueira de bombeiro”. Ela pode ser feita com informações falsas ou verdadeiras, tanto faz, o que importa é o fluxo e ter muito alcance. Eleito o alvo, começa-se a disparar informações desfavoráveis a ele, replicadas para o máximo possível de pessoas com a ajuda de impulsionamento pago às redes sociais e perfis falsos automatizados. Quando o alvo estiver empenhado em explicar uma afirmação, é hora de lançar outra e assim sucessivamente, intercalando verdades e mentiras. O objetivo não é convencer as pessoas do conteúdo das acusações, mas da possibilidade de veracidade, o que já fere de morte a honra do alvo.

Desenvolver e implementar com eficiência técnicas de propaganda política num mundo globalizado custa caro. Este ano somente os 6 canais oficiais pró-governo custaram 102,8 bilhões de rublos, um total de R$ 6.610.286.839,38. Coincidentemente, R$ 6 bi é o valor total destinado pelo Brasil ao socorro de micro e pequenas empresas durante a pandemia. O valor pagaria quase 3 meses de auxílio emergencial a mais de 4 milhões de brasileiros.

Isso não é segredo nenhum, é anúncio feito pelo próprio governo russo por meio da TASS, agência russa de notícias, . Este mês, o Ministério das Finanças informou que, em 2020, foi gasto mais do que o previsto inicialmente para financiar esse sistema e há a previsão de aumentar em 40% o valor no ano que vem. O maior interesse é reformar os estúdios da RT em Moscou e fazer com que a TV oficial de notícias do governo russo, o maior gasto de propaganda, crie um serviço em língua alemã.

Controlar a narrativa da mídia é prioridade para o governo russo, sobretudo em tempos de crise como agora, quando as pessoas podem se revoltar. Mas como isso é possível se todos têm acesso às redes sociais e, com ou sem manipulação, podem ler notícias do mundo todo? Desacreditando qualquer fonte que não seja aprovada pelo governo russo. Isso funciona combinando duas estratégias poderosas contra inimigos do governo: comunicadores de estimação que espalham a propaganda russa e são inflados via redes sociais. Eles ganham bem para dizer o que Putin deseja e o conteúdo é replicado em redes sociais com impulsionamento e automatização. Além de colocar os temas do governo em pauta, o processo acaba legitimando os comunicadores de estimação junto à sociedade russa.

Mas os russos não percebem que estão sendo controlados? A gigantesca maioria não, pensa que vive uma democracia. Na verdade, se implantado com a excelência russa, o sistema de propaganda funciona muito bem em todo lugar cujo povo não faça a menor ideia do que é democracia. Na Rússia, por exemplo, a maioria das pessoas acredita que democracia é ter eleições, transparência das instituições e liberdade de expressão. Os russos não colocam na conta que o controle do governo pelos cidadãos e ausência de controle do cidadão pelo governo são indispensáveis numa democracia, então acreditam viver numa mesmo estando numa ditadura.

Os russos votam, falam o que querem na internet, acessam conteúdo do mundo todo e ainda contam com mecanismos de transparência da mudança das leis, como este site governamental que estimula a conhecer projetos de lei e vigiar contra a corrupção. O governo não leva em conta a opinião das pessoas, o cidadão até acessa dados mas não controla o governo e os dados todos coletados via redes sociais chegam às mãos do governo. Assim, ele tem liberdade mas só dentro dos limites que interessam a Vladimir Putin.

Entenda a mídia financiada por Putin
A menina dos olhos de Vladimir Putin é o Russia Today, canal que mimetiza a estética, a linguagem e a forma de apresentação de canais de notícias internacionais. Tem noticiário 24 horas e é o lar dos comunicadores de estimação do governo russo. Tem serviços de notícias em Russo, Árabe, Inglês, Espanhol, Francês e está estruturando em alemão.

A segunda maior verba é do Canal 1, uma televisão no estilo dos canais tradicionais aqui do Brasil, com espetáculo, entretenimento, ficção, reality shows, programas de auditório e momentos de noticiário. No ano passado, essa televisão deu prejuízo de € 96 mi, o equivalente a R$ 633 mi.

Há ainda um outro complexo de rádios e televisões, a VGTRK, herança da época soviética, que atinge todo o país. Essa é a que o público mais claramente liga ao governo por causa do nome “Companhia Estatal de Transmissão de Rádio e Televisão”. Diversas emissoras de rádio e TV governamentais russas passaram a ser subordinadas a essa marca nos últimos 20 anos. O conglomerado controla 80 emissoras regionais de TV e rádio em todas as regiões da Rússia, o canal informativo Rússia 24, os canais nacionais Russia 1 e Russia Culture, o RTR Planeta (canal internacional de notícias em língua russa), a versão russa da TV Euronews, o canal estatal de internet Rússia e as estações de rádio nacionais Radio Russia, Mayak, Culture e Vesti FM.

A rede Zvezda, “A Estrela”, é o antigo jornal oficial das Forças Armadas Soviéticas, hoje subordinada ao Ministério da Defesa de Putin. Imita também a estética, linguagem e apresentação de órgãos de notícia e tem, além do serviço online, TV e rádio.

Outro órgão importante para o governo Russo e que rendeu a primeira sanção da União Europeia a um jornalista é a holding Rossiya Segodnya, que tem uma TV e vários sites de notícias, todos com serviço de vídeo e podcast: Ria Novosti, inoSMI (dedicado a “traduzir” notícias estrangeiras, e a agência internacional Sputnik, que tem escritório no Rio de Janeiro e serviço em português. O CEO dessa holding é tido na imprensa europeia como “principal propagandista do Kremlin” e sofreu sanções da União Europeia por transmitir propaganda russa como se fosse notícia em seu programa de TV durante o conflito com a Ucrânia.

Finalmente, a mais tradicional de todas, com 113 anos de fundação, a TASS, agência oficial de notícias do governo russo.

Toda essa mídia bancada pelo Estado convive com órgãos de mídia independentes russos, jornalistas independentes, mídias sociais liberadas e canais de imprensa internacionais. Diferente do modelo chinês de propaganda, que controla o acesso à informação, o modelo russo de propaganda mira em minar a credibilidade de quem não é aprovado pelo governo e lançar desconfiança sobre a mídia internacional. Isso funciona manipulando mídias sociais e tendo comunicadores que levam ao público propaganda do governo travestida de informação ou opinião.

A desinformação na mídia pró-Putin
A agência investigativa The Insider, diante da divulgação do aumento de 40% no gasto com mídia pelo governo russo, resolveu fazer uma reportagem mostrando quanto ganham os comunicadores preferidos de Putin. Todos eles são encarregados de mesclar propaganda russa na programação normal, apresentando sempre como se fosse uma opinião, dúvida ou questionamento sobre um fato. São todos muito famosos e queridos do público russo. Também são estrelas conhecidíssimas do projeto europeu que monitora a desinformação, “EU x Disinfo”.

O comunicador mais importante para o Kremlin, além de ter um programa de TV também chefia a agência que traduz a mídia internacional para o russo e a agência oficial Sputnik, a única com versão em português de todo esse esquema. O salário total dele nunca foi divulgado.

Dmitri Kiselev – Дмитрий Киселев apresenta um programa semanal na TV Russa e é o chefe da agência de notícias Russia Segodnya. Sabe-se que ganha o valor de 27 aposentadorias – 4,6 milhões de rublos ou R$ 333 mil por ano – para o trabalho de menor valor, o da TV. Ninguém sabe quanto ele recebe para chefiar a agência de notícias, mas ele é tido como o grande propagandista do Kremlin. É uma tarefa geralmente minimizada no ocidente, que caracteriza essas figuras como “espalhadores de fake news”.

Segundo os especialistas do EU vc Disinfo, os serviços oferecidos por Kiselev são muito mais sofisticados, uma espécie de comunicação estratégica de campanha com licença para mentir. “O que pessoas como Dmitry Kiselyov podem oferecer é um produto, que na superfície pode se assemelhar ao jornalismo, mas é antes uma forma de entretenimento, que um governo pode instrumentalizar em apoio a suas políticas, suas guerras; e, o mais importante, é um serviço que pode ajudar a manter um governo no poder ininterrupto e contínuo”.

O principal poder de Kiselev é sua longa vivência jornalística democrática de acordo com as regras ocidentais. Até o início dos anos 2000, era visto como um jornalista independente, liberal e amigo do ocidente. Trabalhou para a TV da União Europeia fazendo programas em russo, tinha a vida profissional ligada aos órgãos jornalísticos com sede na Ucrânia e, em 2012, foi participante International Visitor Leadership Program em Segurança Internacional do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Em 2013 foi contratado por Putin para ser a mente por trás da gigante Russia Segodnya e se tornou um mago da propaganda do Kremlin.

A principal linha de discurso de Kyselev é repetir em seu programa semanal de televisão que a Rússia pode reduzir os Estados Unidos a cinzas nucleares. Pode parecer grotesco, mas é um tipo de propaganda sofisticado que combina o noticiário das agências com o programa na TV, o canal de YouTube e a manipulação das mídias sociais. Entre as peças de desinformação mais famosas estão:
– A democracia liberal é a religião mais sedenta por sangue no mundo.
– Os Estados Unidos apóiam o terrorismo islâmico em todo o mundo.
– O documentário da BBC sobre a corrupção de Putin é uma peça de propaganda ocidental contra o Kremlin.
– Stálin nunca cometeu os crimes denunciados por seu sucessor, Nikita Kruschev.
– O Holomodor foi uma sabotagem contra a União Soviética.
– Os Estados Unidos criticam a Rússia por motivo de russofobia.
– O historiador russo que acusa Stálin de crimes é, na verdade, um lobista que defende o círculo liberal internacional de pedofilia.

Disfarçar a propaganda do Kremlin como jornalismo e adicionar a manipulação das redes sociais é apenas uma parte da técnica russa. A propaganda também é inserida em programas que mimetizam a programação de entretenimento e humor das emissoras ocidentais. É da mistura entre todos os mecanismos de desinformação que se extrai o resultado. Para o ocidente, no entanto, parece apenas a liberdade de expressão de governistas russos. Democratas focam no conteúdo do que é dito, ditadores focam no método de disseminação e controle da informação.

A entrevistadora oficial do Kremlin é a glamurosa Asker-Zade – Аскер-Заде , namorada do dono de um banco ligado a Putin. Recebe em seu programa Actors artistas e altos funcionários do governo russo, sempre para conversas amigáveis e triviais.

O rei da teoria conspiratória governamental foi estrategicamente colocado na programação da emissora de outro banqueiro amigo de Putin, a RTV, especializada em temas como terraplanismo, discos voadores e outras informações do gênero. Mas Andrey Dobrov-Андрей Добров, a estrela do “Dobrov on The Air” fala de temas mais sérios, como acusar a maior empresa independente de auditoria e consultoria da Rússia, a FBK, de ser chefiada por uma espiã da Grã-Bretanha.

Também há o personagem do político lacrador, Alexei Pushkov-Алексей Пушков, especialista em comentar assuntos internacionais. Ele tem um cargo no governo Putin, já teve representação na Duma e é conhecido por sempre aparecer mitando contra outros países nas notícias oficiais. A chamada mais comum nas reportagens é: “Alexei ridiculariza” o adversário do dia.

O comunicador popularesco de estimação do governo Putin é Vladimir Soloviev-Владимир Соловьев, showman e um dos maiores faturamentos em propaganda da TV, apesar de estar já em decadência. Ficou famoso por dancinhas e mostrar golpes grotescos de caratê durante o programa em que mistura notícias popularescas com propaganda do Kremilin travestida de opiniões fortes. Tem um canal no YouTube muito famoso entre os russos e é considerado uma das principais peças da estrutura de propaganda russa.

O propagandista mais bem pago oficialmente e de forma publicamente declarada pelo Kremlin é um humorista da ala do escracho, Artem Sheinin-Артем Шейнин. Ele recebe 100 milhões de rublos por ano, o equivalente a R$ 7,27 milhões. Entre os adultos, é conhecido como “o homem que corria pelo estúdio com um balde de fezes”. Faz piadas agressivas e de baixo nível e, embora se dirija ao público adolescente e pareça absolutamente imbecil, não tem nada de bobo. É jornalista, serviu no Exército Russo, faz parte da cúpula da TV, de onde já foi diretor e editor de programas. Hoje, é líder de audiência absoluto no país. Entre as informações que circulam no programa estão as pérolas:
– Os Estados Unidos financiaram o laboratório de Wuhan que causou o surto de coronavírus no mundo.
– O coronavírus não existe, é uma manipulação internacional de informação.
– Todas as guerras dos últimos 30 anos no mundo foram causadas pela OTAN e pelos EUA, que são russofóbicos.

Chavões que se repetem
O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, visitou Cuba esta semana, como informou o presidente do país Miguel Díaz-Canel Bermúdez em sua conta no Twitter. Na agência oficial de notícias do governo cubano, Granma, uma declaração conjunta que você já deve ter ouvido por aí: “os líderes reconheceram que ambas as nações continuam defendendo o multilateralismo, o direito internacional, os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas e a cooperação entre os países”. A frase repetida por Bermúdez e dita por Lavrov você também já ouviu por aí: “estamos do lado certo da história”.

As teorias conspiratórias dos propagandistas russos dizem que o país deles pode vencer qualquer país do ocidente em qualquer coisa, principalmente em qualidade de vida e saúde. Há, na verdade, um único ponto em que a Rússia venceu todas as potências ocidentais: propaganda política.

Todos os chavões criados pelos russos, das frases comunistas às patrióticas, você vê repetidos no mundo todo. As teorias conspiratórias preferidas dos comunicadores do Kremlin, como o terraplanismo, também se disseminou pelo mundo ocidental. O método usado por diversos comunicadores governistas na Europa e nos Estados Unidos, de escamotear propaganda no que esteticamente e na linguagem parece ser um programa tradicional de TV ou rádio também tem berço na Rússia. As estratégias e táticas mais conhecidas de manipulação das redes sociais para amarrar toda essa narrativa são russas também.

Os estudiosos da propaganda política dizem que é impossível desmentir essa teia de mentiras. A maioria das pessoas acredita e continuará acreditando mesmo diante de provas do oposto, é só desacreditar a prova ou quem falou. Reconhecer ter vivido no engano é um processo muito mais dolorido e não muito conveniente em uma sociedade como a russa. Os russos estão pagando pela própria prisão ideológica e ainda não parece haver uma força capaz de derrotar a máquina de propaganda do Kremlin.

Brasil, Rússia e BRICS

“Arquipélago Gulag”, a espetacular obra literária do historiador e escritor russo Aleksandr Solzhenitsyn, traça a história do brutal e terrível sistema de trabalhos forçados nos campos que continuaram a existir na União Soviética no século XX. Durante gerações, a Rússia brutalizou seu próprio povo, assim como os cidadãos dos países vizinhos que formaram a URSS. Apesar de Moscou tentar demonstrar que as coisas mudaram, desde o colapso do regime soviético, a Rússia segue no mesmo caminho geopolítico, mas utilizando outros instrumentos como os BRICS.

Isto é algo que deveria ter a atenção e estar no radar de países como o Brasil.

De fato, muito da “turbulência global” conhecida ao redor do mundo, inclusive no seu próprio território, tem sido causada e amplificada por enredos criados por Moscou. Não é necessário olhar além da Venezuela, uma ditadura socialista que gerou uma catástrofe econômica e reduziu seu povo a uma situação de pobreza, desorganização social e política e baixa cooperação global, causando uma migração sem precedentes na América do Sul afetando milhões de pessoas. A Rússia tem investido bilhões de dólares na Venezuela com apoio militar para defender Maduro, o principal elemento para a manutenção desta tirania no poder. O restante do continente, assim como Brasil, tem que conviver com suas consequências econômicas, migratórias e sociais.

A Rússia buscou espalhar seus tentáculos muito além da Venezuela. Na Bolívia, em 2019, Moscou enviou conselheiros políticos para trabalhar nas frentes de mídias sociais e campanhas digitais com o objetivo de promover o ex-Presidente Evo Morales e atacar seus opositores. Felizmente o povo da Bolívia e os observadores internacionais reconheceram que a Rússia estava ajudando Morales a vencer as eleições de forma ilícita, expondo operações até então desconhecidas. Moscou trabalhou também com o objetivo de punir governos de países como Chile e Equador que resistiram diante da tentativa de influência russa, promovendo protestos e propaganda em redes como RT e Sputnik Mundo.

Vladimir Putin, e seu círculo mais próximo não tem qualquer receio em usar táticas mais agressivas para atingir seus objetivos geopolíticos. Em 2017, trabalharam por um golpe político na Macedônia, felizmente exposto. Existem suspeitas concretas que tenham trabalhado de formal letal contra dissidentes russos no Reino Unido e na Alemanha. Além disso, também pairam suspeitas graves que tenham apoiado grupos mercenários que fizeram vítimas civis na Síria e Líbia.

A Rússia tem provocado instabilidade no sistema e direito internacional com o objetivo de atingir seus interesses econômicos e políticos. Seus diplomatas foram expulsos de diversos países ocidentais porque trabalham contra as democracias locais interferindo em seus processos eleitorais. Seus atletas foram inclusive banidos de competições internacionais acusados de fraude e doping.

Diante destes fatos o Brasil precisa se perguntar, faz sentido nossa nação estar tão intimamente ligada a uma nação como a Rússia em um bloco que não tem tido um protagonismo efetivo e sem resultados como os BRICS? Durante um período em que nosso país está se esforçando para a retomada e aumento no crescimento e renda, uma cooperação econômica com a Rússia é benéfica para nosso futuro ou pode comprometer nossos planos? Em um período em que estamos trabalhando para banir a corrupção de nossa sociedade, não deveríamos também nos afastar dos negócios corruptos conduzidos pelas empresas que na verdade representam o governo de Moscou?

A Rússia promete trazer benefícios políticos, econômicos, tecnológicos e médicos por meio dos BRICS. Entretanto, diante de todas as evidências, historicamente o país sempre falhou em cumprir suas promessas enquanto também violava soberanias nacionais, enfraquecia democracias e ainda aplicava força letal com o objetivo de atingir seus objetivos geopolíticos. O Brasil não pode ser tolo em acreditar que a Rússia não fará o mesmo aqui, como talvez já esteja fazendo com o navio Yantar, considerado um navio espião, que navegou pela costa de nosso país em 2020. Se não podemos acreditar em nosso parceiro nos BRICS, deveríamos nos perguntar porque fazemos parte deste grupo.

Políticas Públicas, Gestão e Pandemia

As mudanças promovidas pelo Covid-19 ainda são incertas. Não se sabe, com precisão, como o mundo se estruturara após a crise, mas pode-se afirmar que trará alterações profundas nos mais diversos pilares da sociedade, incluindo: empresarial, social, político, econômico, comportamental entre tantos outros. A maneira com que o Estado resolve os problemas comuns da população será aprimorada, ao mesmo tempo em que tenta equacionar as questões mais imediatas, enquanto a crise perdurar. A pandemia, com o enorme sofrimento que tem causado em âmbito global, impôs a necessidade de repensar a interação dos governos com a sociedade na construção de políticas públicas que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas.

O combate à crise tem exigido o máximo que o arcabouço institucional do poder público pode oferecer como organizador da sociedade e direcionador das soluções comuns, em áreas essenciais como educação, segurança e saúde. Em crises passadas, setores específicos da administração tiveram o protagonismo em equacionar as respostas do governo, como crises econômicas ou produtivas. Em nenhum outro momento nas últimas décadas, ou talvez no último século, o setor público, como um todo, foi tão impactado. Não se trata mais de um tema apenas para a pasta econômica ou da saúde, mas dos direitos humanos, da ciência e todos os demais.

Um aspecto fundamental da transformação do papel do Estado será o uso de evidências ou das melhores informações disponíveis para elaborar políticas públicas que se antecipem aos problemas. Análise de tendências, com base na massa de dados disponível, otimização de recursos com foco no benefício gerado para o cidadão, análise e melhoria de exemplos e melhores práticas, tudo isso será indispensável para a obtenção de diagnósticos mais precisos que, por sua vez, poderão gerar melhores soluções.

Outro ponto importante de transformação será o componente da legitimidade das decisões públicas. Serão menos frequentes as vezes em que um dirigente público ou parlamentar apresentará políticas públicas sem engajamento com os lados envolvidos nessas políticas públicas, tanto sociedade civil quanto empresarial, não apenas um deles. A confiança pública só aumentará com a percepção de que as soluções oferecidas pelos governos atendem aos interesses da maioria, de forma justa, com menores margens para manobras eleitoreiras. A imprensa e seus editores desempenharão um papel mais importante do que nunca nesse novo modelo, porque trarão análises consistentes dessas novas políticas públicas e de seus resultados efetivos, e farão a seleção dos temas relevantes e de impacto, mas pouco salientes, e que precisam ser apresentados à opinião pública.

A gestão pública tem boa capacidade técnica de execução e cumprimento de normas estabelecidas, mas, depois da crise, terá de ir além. Haverá um avanço da atenção de outputs para os outcomes, ou seja, do que é feito e entregue para os efeitos e impactos que essas entregas efetivamente geram. É inegável que tem havido um descasamento entre o que se faz e o efeito esperado dessas ações. Gestores se questionarão crescentemente se faz sentido executar políticas públicas mal desenhadas e pouco embasadas, se basta apenas entregar serviços públicos desprovidos da crença no interesse comum. Um novo paradigma administrativo que possa gerar mais valor público emergirá dessa crise. O mundo pós Covid-19 nunca mais será o mesmo.

Intolerância Religiosa X Direitos Humanos

Comemora-se no dia 10 de dezembro o Dia Internacional dos Direitos Humanos. A data nos remete ao permanente compromisso da comunidade global com a garantia e manutenção de direitos humanos, que em muitos casos, se resumem a direitos básicos, o mínimo para garantir uma vida digna aos seres humanos em qualquer lugar do planeta.

Mas para além desses direitos humanos “básicos”, a liberdade religiosa é um dos que mais necessitam de um olhar mais atento por parte das nações. Não é admissível para uma sociedade que se diz evoluída, movida por empatia e compaixão, se colocar na posição de potencializar a intolerância religiosa, seja pela ação direta ou pela simples omissão na tentativa de negar esse fato.

Em recente evento interativo promovido pelo Instituto Legislativo Brasileiro (Interlegis), mediado pelo Instituto Montese, defendemos essa linha de raciocínio, ao refletirmos especificamente sobre a perseguição a cristãos chamada cristofobia. Certamente, tal defesa não significa ignorar a odiosa perseguição perpetrada contra pessoas que professam outras religiões. Corretamente, os casos de perseguição envolvendo essas religiões causam comoção e ganham enorme notoriedade nos meios de comunicação. Mas seja por ignorância, preconceito ou má-fé, também é notório que a cristofobia não tem o mesmo apelo midiático e igual repulsa social.

A Organização Portas Abertas divulga anualmente o ranking dos 50 países onde professar a fé cristã pode custar a vida. O levantamento classifica os países de acordo com o nível de perseguição: alta, severa ou extrema. O ranking 2020 aponta um número de 260 milhões de cristãos perseguidos no mundo. A metodologia considera cristão qualquer pessoa que se identifica como tal, incluindo as que não pertencem a uma denominação específica. E classifica como perseguição qualquer hostilidade vivida como resultado da identificação da pessoa com Cristo, como atitudes hostis, palavras e ações.

Nos primeiros lugares estão países como Somália, Líbia e Sudão, caracterizados pela ação de grupos radicais islâmicos que promovem chacinas de cristãos. Estão também Índia, Paquistão, Síria e as teocracias islâmicas do Oriente Médio. A ditadura socialista da Coréia do Norte também é pródiga em perseguições violentas de cristãos.

O caso da China é peculiar. A ditadura chinesa lidera o ranking em número de agressões a igrejas ou propriedades cristãs, com 5.576 ataques. O curioso é que o cristianismo é permitido no país, mas é rigorosamente controlado pelo Governo. Para se ter uma ideia, o Partido Comunista “comanda” a igreja católica no país, dizendo quais igrejas podem funcionar e até há bem pouco tempo, escolhia os bispos à revelia do Vaticano.

A intenção é monitorar qualquer manifestação de lideranças eclesiásticas que possa soar como crítica a Pequim. Aliás, esse método de intimidação, até mesmo em território estrangeiro, não é nenhuma novidade. Funcionários da embaixada chinesa em Lisboa tentaram bloquear a participação do cardeal Joseph Zen Ze-Kiun, bispo emérito de Hong Kong e opositor do regime de Pequim, numa reunião de católicos em Fátima no ano passado.

Por isso, é importante destacar que, para além do aspecto religioso em si, também existe um forte componente político-ideológico que marca de maneira específica a cristofobia. É possível observar que a maior parte das ocorrências se dá em regimes teocráticos de maioria religiosa distinta do cristianismo ou em regimes totalitários de predominância socialista e comunista.

A supressão da fé cristã sempre foi uma das principais medidas de regimes inspirados no ideário comuno-marxista ateu, sobretudo na Europa. Já ditadores como Fidel Castro, que até professavam a fé cristã pela influência católica na América Latina, logo a abandonaram, diante da evidente incompatibilidade com a ideologia que defendiam. O fato é que o cristianismo sempre foi visto como obstáculo para a concretização de projetos de dominação. Por isso mesmo, entendemos que essa é a raiz estrutural da cristofobia do ponto de vista político e ideológico. É necessário que a única fé possível seja no Estado, na sua infalibilidade e na dos seus líderes.

Não por acaso, o cristianismo e seus símbolos são o alvo preferencial de grupos extremistas. Igrejas são vandalizadas, depredadas e queimadas, como vimos recentemente nos EUA e no Chile. O pouco ou quase nenhum repúdio de formadores de opinião, políticos e líderes religiosos, ou mesmo o seu endosso desavergonhado, acabam por validar tais agressões.

No Brasil, de maioria religiosa considerando católicos e protestantes, não existe uma perseguição violenta e estruturada contra cristãos. No entanto, a cristofobia por aqui e na maioria dos países do Ocidente se manifesta pela pressão e discriminação que oprime e ridiculariza quem não adere à ideologia dominante antirreligiosa e secularista, no campo da ciência, meios acadêmicos, na mídia e demais espaços públicos de poder.

Basta ver que o fato de alguém professar a fé cristã o desqualifica imediatamente para ocupar qualquer espaço na sociedade. É como se os anos de estudo, capacitação e experiência em determinada área fossem anulados pelo aspecto pessoal de professar a sua fé. É um preconceito evidente baseado na religião que o indivíduo professa, portanto, é também intolerância religiosa.

Falar em cristofobia não é só oportuno, mas necessário. Sobretudo quando essa prática agride um direito humano essencial como a liberdade religiosa. Como também previsto na nossa Constituição, o Brasil deve assegurar plena liberdade religiosa a todos que aqui vivem. Não é tolerável que opressões religiosas, ainda que não violentas, tenham espaço no nosso país. Mas também devemos denunciá-la em qualquer lugar que ocorra, e em todos os fóruns onde isso seja possível.

Diplomacia é o caminho para preservação da democracia

As democracias ocidentais passam por um período de polarização e as redes sociais contribuem para o recrudescimento desse debate ao alimentar e ecoar teorias conspiratórias inflamatórias e posições políticas agressivas que lutam para inviabilizar qualquer forma de acordo ou compromisso. Esse cenário esgaça o tecido social e tem, especial, efeito deletério sobre os processos eleitorais, o que é essencialmente perigoso para democracias que por sua natureza aberta, incentivam e protegem a livre expressão de opiniões e, por isso encontram muita complexidade legislativa para conseguir uma forma de responder a ameaça sem minar a liberdade de expressão.

No campo da Política Externa as novas tecnologias aliadas ao crescente papel da diplomacia presidencial, ou do chefe de governo, tem o viés de personalizar o debate internacional e cada vez mais comuns são as crises de opinião pública provocadas por declarações de líderes em suas redes. Agora mesmo o leitor enquanto lia enumerou na sua cabeça uma série de declarações infelizes cujas consequências ainda se fazem sentir.

Diante desse cenário em que a democracia tem que ser defendida de ameaças e do potencial para causar problemas da dependência da diplomacia presidencial, a diplomacia deve ter seu papel de organização e construção de regimes internacionais equilibrados e pacíficos reiterado.

Hans Morgenthau ao final da Segunda Guerra Mundial escreveu uma das obras de referência da literatura das Relações Internacionais, “A política entre as nações: a luta pelo poder e pela paz”, publicado, em 1948. E, portanto, marcada pela viva lembrança dos horrores da guerra e pelas incertezas do novo período que nascia, contém lições ainda uteis para pensar a política externa. Sobretudo, as quatro regras fundamentais da diplomacia: i. Diplomacia não deve ter “espírito de cruzada”; ii. Diplomacia deve ser calcada em torno da defesa do Interesse Nacional, da preservação da unidade territorial e das instituições de cada Estado; iii. A diplomacia não pode ser cega aos interesses e condições internas dos outros estados, e: iv. A diplomacia deve estar disposta a ceder em temas não existenciais para o estado.

Esses princípios nos mostram que a defesa da democracia como valor universal, como vimos no começo do século XXI, e o uso da máquina diplomática pra defesa de teses que mais tem a ver com interesses partidários do que com Interesses Nacionais não são bases de uma diplomacia eficiente, mas a defesa das instituições nacionais, de nossa democracia possui um caráter existencial para o estado, por isso a diplomacia contemporânea, precisa ser criativa e diligente, para gerar arranjos que protejam nossas democracias, de ataques e manipulações externas.